domingo, 18 de março de 2007

A Janela Quebrada

Essa casa está morrendo. Ao menos é essa a impressão que ela me dá. Talvez seja por causa das paredes que um dia foram brancas estarem cinzentas, do mesmo jeito das cortinas que balançam pesadas nessa brisa fria. Ou talvez seja por causa dessa brisa fria que entra pela janela quebrada. A quanto tempo ela tá assim? Um mês? Um ano? Eu só sei que essa janela já estava assim no dia que ela se foi. Era um dia claro, daqueles bonitos, com passarinhos cantando e tudo mais. Eu acordei meio tarde e fui observar o movimento da rua pela janela. Foi quando eu a vi pela ultima vez. Ela tinha aquele mesmo olhar, belo e triste, o mesmo que me fez falar com ela naquela fila de mercado. Nossos olhares se encontraram por um instante antes dela ir. Eu queria ter gritado, corrido, ter feito alguma coisa. Mas eu só fiquei lá parado observando ela ir embora através daquela janela. No começo eu na senti muito. Era até divertido poder bagunçar a casa, deixar a tampa do vaso levantada e coisas do tipo. Mas com o tempo surgiu um vazio que nada podia cobrir, tanto que até a casa sentiu isso. Eu sei que eu tenho que pintar as paredes, trocar as cortinas e colocar um vidro novo na janela, enfim, continuar a vida, como vivem me dizendo. Mas por enquanto não dá. Por enquanto eu só quero ficar aqui observando a rua através dessa janela quebrada esperando por alguém que eu sei que nunca mais vai voltar.


Marden S. Linares

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